Após desfilar pelas ruas de Paris em junho de 1940, Hitler se sentia invencível. A Blitzkrieg, inovadora forma de guerrear que dava prioridade a tanques e aviões, se mostrara um sucesso. A França havia caído em 46 dias.
No ano seguinte, o plano era outro. Acabar com o inimigo número 2 da raça ariana: os comunistas. Foi quando um estudo sobre os tanques russos levaria à uma proposta indecorosa: criar um tanque de mil toneladas.
A ideia chegaria aos ouvidos de Hitler por Edward Grotte, presidente das indústrias Krupp, em junho de 1942, às vésperas da Batalha de Stalingrado, quando tudo ainda parecia conspirar em favor dos alemães. Faltava o golpe final e isso poderia ser dado por uma arma que seria simplesmente invulnerável a qualquer coisa no arsenal soviético.
O Landkreuzer (que significa cruzador terrestre) P.1000 foi apelidado por Hitler de Ratte — rato, uma piada que vinha de outro projeto similar, o panzer VIII Maus (camundongo), tanque de 188 toneladas que seria construído, mas não veria combate. O rato teria 35 metros de comprimento e 11 metros de altura, cinco vezes maior do que o camundongo.
Para se ter uma ideia, o tanque mais pesado operacional de todos os tempos, o Tiger II, também da Alemanha Nazista, tinha 70 toneladas, e um M1A1 Abrams moderno, 65 toneladas.
Ser um cruzador terrestre implicava uma certa mistura de navio ajustado ao uso do solo. Ele seria composto por duas armas navais e os motores deveriam ser fornecidos com snorkels, para que pudesse atravessar rios pelo fundo. Pontes estavam fora de questão — e isso levaria ao fim do delírio.
Um tanque desse tamanho destruiria todas as estradas e pontes em seu caminho, tornando quase impossível mandar reforços ou recuar. Levá-lo de trem seria também impossível — boa sorte quando acabasse o combustível. Andando pelo campo, com uma velocidade máxima (e talvez irrealista) de 40 km/h, seria um alvo gigante para ataques de aviões. Enfim, era um delírio que, na melhor das hipóteses, pertencia a outra época.
Albert Speer, o arquiteto do Reich e Ministro dos Armamentos, encerrou a loucura silenciosamente, fechando a torneira do projeto em 1943.
O general Hans Gunderian, o pai da Blitzkrieg, achou tudo um absurdo: “As fantasias de Hitler às vezes descambavam para o gigantismo”.
Por THAÍS UEHARA